segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Imagens do filósofo (algumas reflexões complementares à aula de hoje, na Universidade Sénior)

A minha tese é simples: um filósofo não é um profeta e o seu caminho não é errância. Essa imagem, a meu ver, perverte a filosofia na sua missão essencial que não é a simples sapiência – a própria designação de filo-sofia, procura da sabedoria, recusa-se como pura e simples posse e afirma-se como busca, inquietação pelo saber.
O especulativo incompreendido (e ridículo), que declama das nuvens ou para as nuvens (como o Sócrates de Aristófanes, na comédia As nuvens) pertence, de facto, ao anedotário filosófico e transporta um conteúdo determinado – e, apesar de tudo, adequado; adequa-se ao filósofo como ‘ser das alturas’, ao ideal ascético veiculado a partir de Platão. Gilles Deleuze (Logique du Sens) identifica, neste ‘psiquismo ascensional’, a associação platónica entre moral e filosofia; a simbologia filosófica abandona, assim, a investigação das profundezas, da terra, da matéria, como fora desígnio de muitos dos pré-socráticos (os Milésios, por exemplo) que faziam filosofia ‘com as mãos’, para se instalar no céu inteligível e aí ficar.
Mas Gilles Deleuze, na senda de Nietzsche, não deixa de ser injusto na sua radical condenação (muito judaico-cristã!) do platonismo! Mesmo o filósofo platónico fica mal instalado no seu trono de inteligibilidade, porque a filosofia é ativa e processual. Tal como ‘o libertado’ da caverna (Platão, Alegoria da Caverna) que regressa para junto dos seus companheiros, assumindo o seu compromisso político, o filósofo ou é do mundo, ou não é filósofo; quer isto dizer que a filosofia digna desse nome é consciente da sua missão transformadora em relação ao mundo do homem comum e à sociedade. Desta forma, o filósofo é aquele que pensa o mundo, mas não só. Procura transformá-lo, integrando-se na categoria dos que agem e fazem ouvir a sua voz. De outra forma limitar-se-ia a pregar no deserto ou  pendurar-se-ia das nuvens, assumindo-se como caricatura e imagem de comédia.
Ao contrário da ‘in-diferença’ ao mundo e aos seus diversos acontecimentos (todos os acontecimentos, de facto), a filosofia ensina-nos a fazer a diferença. Abre, assim, o caminho para um modo de pensar que é, sobretudo, uma maneira de viver e agir.

5 comentários:

JOSÉ CARIA disse...

O Movimento é o modo de existência da Matéria.Nunca,em lado nenhum,houve Matéria sem Movimento;
Acabe-se com o procurar soluções definitivas e verdades eternas;tenha-se a consciência,sempre,do carácter necessàriamente LIMITADO de todo o conhecimento adquirido, da sua dependência em relação às condições em que foi adquirido; Não nos deixemos impôr-nos ANTINOMIAS ;O Verdadeiro tem o seu lado "falso",oculto,que aparecerá mais tarde;o "falso" tem o seu lado verdadeiro;O necessário integra acasos;o pretenso acaso é forma sob a qual se "esconde"Necessidade.
Camões,inspirado noutros, escreveu " Todo o mundo é composto de mudança,tomando sempre novas qualidades..."
José Caria

Josmael Bardour disse...

A vida é um modo de acção, consequência de um pensamento que sob uma verdade, oculta ou não, condiciona o modo de viver individual e colectivo. Quem disse…? O mundo roda torto mas quando passar junto de mim, vou dar-lhe um pontapé para o tentar endireitar.

The Last Fever disse...

Fernanda um dia tens de escrever um livro. Acho que ias ter sucesso.
Raquel.

m.f.f. disse...

Obg Raquel. Conto-te já como potencial leitora ;)

Josmael Bardour disse...

Conte com a minha ajuda, de qualquer forma, para a publicação desse livro.